que tristeza...
as praças do meu passado,
Passam por mim e choram
As ruas lamentam
sob meus pés negros
minha solidão,
Os olhos de hoje,
são outros,
Os pássaros são outros,
A lentidão dos movimentos
Foi substituída
Pelos passos apressados,
Assustados,
O pipoqueiro envelheceu
Mas o aroma é o mesmo,
Não sou mais a criança
que bebia a seiva da vida,
Hoje bebo o fel da saudade.
Flutuo pela cidade,
de cima dos meus
cinqüenta e cinco anos
Arrependo-me
de não sorrido tanto,
de ter me fechado em copas,
Não ter deixado o peito aberto
Para os abraços,
De não ter explorado
cada espaço da cidade,
De não ter olhado
cada rosto,
Os rostos de que me lembro,
Mudaram,
mas ficaram congelados
Numa lembrança de juventude
Que a realidade desmente,
Os defeitos
foram acentuados pelo tempo.
De cima de minha idade
Não vejo muito futuro:
As crianças
que continuam a nascer,
Deveriam trazer
Um sopro de vida,
Mas trazem
o signo da morte,
Jovens são despedaçados
pelo consumo das drogas,
Negros são chacinados,
Nos becos e guetos da cidade.
Ah pobre cidade,
Teu povo
ainda sorri
apesar
das tragédias diárias
que tu vês
Ainda faz festa,
Chora
ao enterrar seus mortos,
Pobre de mim
Que fui descongelado,
e jogado
no teu seio,
cheio de lembranças velhas
e de saudades novas.
Pobre cidade!
como posso pinta-la
se tuas paisagens
foram modificadas,
Como posso
te cantar
se não tenho
palavras novas,
Se meu vocabulário
se esgotou em
outras paragens
Pobre de mim..
pobre de nós.
Daniel Silva Gomes