Minha Vó era filha de escravos, nasceu durante a vigência da lei do ventre livre, portanto, “livre”, tinha verdadeira paixão pela Princesa Isabel, era de São Felix.
Dona Joana como era conhecida lá por Cachoeira e São Felix andava com seu eterno xale negro de crochê, alias usou luto ate sua morte, não admitia nenhuma roupa que tivesse a predominância do branco, lembro-me quando comecei a trabalhar dei a ela uma peça de tecido branco e preto, ela ficou muito emocionada com o presente, mas não fez um vestido apenas guardou-o minha prima Gilcélia, alias professora Gilcélia, me explicou o porque e eu dei outra peça preta e branca, assim era Dona Joana.
Quando ela vinha pra Bahia, ou seja como ela chamava Salvador, ficava em nossa casa, na casa de Seu Felipe, meu pai, homem branco e apaixonado por ela que a chamava de Minha Velhinha e Dona Vicentina minha mãe e filha casula de Vovó.
Ela trazia os apetrechos para fazer charuto, a faquinha de sete tostões, o fumo enrolado em papel de jornal e as folha nobres para encapar o charuto, e a cola feita com resto de pão que nos deixávamos, sentava num tamborete atrás da porta da rua e ficava vendo o movimento as pessoas que passavam nós que não ficávamos quietos em nenhum instante, as pessoas educadas que a cumprimentava e as que não.
Certo dia estava ela e eu quando uma moça branca que passava pela nossa rua já a bastante tempo e que morava num ruas atrás da nossa na Barros Reis passou e nem olhou para ela, ela deixou a moça se afastar e me disse: ”tão orgulhosa e mal educada mas você viu a taboca do nariz? Ali tem” eu devia ter uns 11 anos e achava a moça bonita por causa dos olhos esverdeados e dos cabelos louros, fiquei decepcionado porque Vovó derrubara o mito da perfeição que essa moca tinha pra mim. Passei a observá-la desde então, e já não a achava tão bonita, e até magoado porque ela não falava conosco, só fui resgatá-la num futuro próximo quando fiquei adolescente, e um “moreno” de não se jogar fora então ela passou a me dar bola, mas seu nariz ano me deixou se aproximar.
Vovó era uma figura fantástica contava historias causos de meu avô que era tocador de viola e festeiro.
Mas esses causos são pra outra ocasião.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
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